Tem coisas que devem ser ditas, ditas de uma forma e não de outra, mas em contraponto, tem coisas que não devem acontecer, e não são faladas, nem de uma forma e nem de outra.
Meu pai ficou bravo por achar que a tampa da panela tinha ficado com oleo e engordurada, mas era a água.
Ele me disse, me chamou, logo que me chamou já me desesperei, ele me assusta constatemente, nunca sei se quando ele grita meu nome, vai ser uma coisa boa, neutra, ou ruim, uma bronca. Desnecessária, do modo com se dá, mesmo ele tendo passado por muito, falando como pode, passado por pior, e as vezes pedindo desculpas, o que eu não me importo, e sim em concertar suas ações e ouvir o que pode ser melhorado, coisa que não tenho espaço nem fala. “E nem se eu segurasse o bastão da fala teria capacidade de por pra fora, pois tais assuntos descalçam a capa d’alma.”
Então, ele gritou de longe meu nome, costume de famílias muitas que conheci, gritar de longe o nome um do outro, o que me incomoda, tanto como a cada vez que cruzamos os caminhos da casa, como um labirinto-estadia, pois vamos de um lado pro outro na casa a muitos momentos, quando cruzamos um ao outro, a necessidade de falar, interagir, e se eu não interajo fica um clima no ar, como se eu devesse, obrigatoriamente sorrir, e expressar algo, a cada momento, como se a vida não bastasse, como se eu não bastasse, como se cada um a si mesmo não se bastasse, e a longa marcha de cada ser, daqueles que buscam uma atividade, pensamento e ação retos, fosse insignificante em sua totalidade, mas principalmente desordenada. Diferente de um pensamento ou acontecimento preciso e passageiro.
Me desestabilizei ao ouvir meu pai dizendo bravo, de uma maneira absolutamente nada agressiva, o que é uma vitória e uma benção, mas de maneira magoada e decepcionada, zangada mas não por opção. Voltei ao meu centro por um milagre como nunca acontecera - me olhei no espelho, pois limpava os dentes, e disse a mim, eu não quero cultuar esse sentimento, devo transmutar, ou mais que isso, então assim se aliviou, mas não por completo. Foi como ir confiante para um exame: mas não totalmente confiante.
Então eu decido hoje, estar na totalidade do amor, caindo, mas voltando antes que eu possa ser afetado pela queda do sublime.
À sublime consciência. Amém.